Freud, em O mal-estar na civilização, publicado em 1930, já anunciava a tensão entre o desejo individual e as exigências do convívio social. Essa tensão, longe de desaparecer, ganhou novas formas na contemporaneidade. Vivemos um tempo em que o ideal de liberdade individual convive com uma hiperexposição coletiva, e, paradoxalmente, com um sentimento crescente de isolamento.
O sujeito contemporâneo carrega o peso de ser tudo ao mesmo tempo: produtivo, criativo, equilibrado, interessante. A promessa de autenticidade virou mais uma forma de performance. E nesse cenário, o mal-estar se reinventa: ele não é mais o da repressão, mas o da exaustão.
A psicanálise nos convida a revisitar o sentido do coletivo. As redes que nos conectam também nos comparam; os vínculos se tornam métricas, e o pertencimento passa a depender da visibilidade. Nunca estivemos tão expostos, e, ainda assim, tão sozinhos.
O desafio atual não é apenas individual, mas civilizatório. Precisamos resgatar a dimensão simbólica do encontro, o espaço da palavra e da escuta, para que o coletivo não seja apenas uma soma de egos, mas uma trama de relações significativas.
O mal-estar, nesse contexto, não é um erro do sistema, é um sinal. Ele indica que algo da experiência humana não se acomoda às exigências do mundo contemporâneo. Escutá-lo é o primeiro passo para reconstruir laços que sustentem a vida psíquica e social.