Apesar de ser coach, eu não costumo me apresentar com esta nomenclatura. Sempre digo que sou psicanalista especializada em atendimento de executivos. Primeiro porque o tipo de coaching que eu faço é diferente do padrão do mercado. Segundo porque nem todo mundo sabe o que é coaching. Por outro lado, existe hoje uma crítica à respeito da banalização do coaching, e até um debate sobre a criminalização do coach.

Quando me tornei coach, há mais de 20 anos, não existia curso de coaching no Brasil. O que definia as pessoas como coach era principalmente a experiência. A minha formação, por exemplo, foi essencialmente autodidata, baseada em pesquisas, leituras e participação em congressos e grupos de estudo, além de horas de trabalho. Anos mais tarde, fui convidada a fazer parte da primeira turma de um curso internacional de coaching, trazido ao Brasil pela renomada consultoria Fellipelli.

Ao longo dos anos, o termo coach passou a ser usado por diversos tipos de profissionais. Começou com o personal coach, ou personal organizer, que ajuda a organizar a sua vida. Em seguida veio o coach de estilo, o coach de emagrecimento e até o coach quântico. Isso aconteceu depois que o coaching começou a ser disseminado e reconhecido como um trabalho sério, que traz resultados no âmbito profissional e pessoal. Logo, todo mundo queria ser coach.

Para entender o momento atual, é preciso voltar à origem do termo coach, que foi emprestado do esporte para designar o profissional que atua no desenvolvimento de lideranças nas organizações. Aí já começa a confusão, porque coach significa treinador, e não é assim que funciona o coaching. Nosso trabalho não é um treinamento, e sim um processo de desenvolvimento e autoconhecimento.

A solução mágica

Lendo a opinião de colegas sobre o assunto, me identifiquei com as palavras do Jorge Oliveira, ex-presidente da International Coach Federation (ICF) no Brasil. Em entrevista ao site Exame, ele disse atribuiu a banalização do coaching ao sucesso do processo. Reproduzo aqui um trecho da sua fala:

“Quando [o coaching] é bem-sucedido, muda o clima da empresa, e muita gente começou a achar isso mágico. Mas isso demora, leva tempo e as organizações passaram a querer tudo muito rápido. E sempre vai ter gente na outra ponta que acha que pode fazer em cinco, quatro meses. Quanto menos formação você tem, mais mágico você se acha. O processo, nesse caso, pode até causar mudanças fantásticas, mas não se sustenta. Segundo porque que quem olha de fora e vê quanto um coach recebe por hora acha isso um ótimo negócio. O pensamento é lógico: sou executivo, vou para o mercado e viro coach. O que as pessoas não olham é o tempo que você deve investir na preparação.”

O grande problema desta aplicação indiscriminada é justamente dar margem ao exercício irresponsável da profissão. Tanto que hoje já se discute a regulamentação e até a proibição do coaching no Brasil. O debate virou matéria no Senado Federal, entitulada “Criminalização do coach”. Em setembro deste ano foi realizada uma audiência pública sobre o assunto, que você pode assistir abaixo:

O melhor coach para você

É importante dizer que não estou aqui para julgar os coachs, muito menos para dizer o que é certo ou errado quando o assunto é coaching. Costumo dizer sempre que meu papel como coach é o de estimular a reflexão, e não dar respostas ou determinar soluções.

Para além da discussão sobre a criminalização do coach, é preciso pesar as consequências da prática indiscriminada da profissão. Além de prejudicar a atuação de profissionais sérios, ela pode afetar negativamente aqueles que buscam e precisam do processo de coaching.

Por isso, reuni algumas orientações que podem ajudar a identificar e escolher o coach ideal para você:

  • Procure saber que cursos a pessoa realizou e se possui algum tipo de certificação. É possível fazer essa pesquisa na internet e nos órgãos competentes.
  • Quando perguntar sobre experiência e trajetória profissional, peça dois ou três contatos de referência. Pode parecer estranho, mas é uma prática normal no mercado.
  • Pessoas que estão em início de carreira costumam ter um(a) mentor(a). Se este for o caso, procure saber quem é este profissional, qual é a sua experiência e trajetória.
  • Perceba como se sente quando conversa com o(a) coach. É fundamental para o processo que exista afinidade, confiança, segurança e respeito entre coach e coachee. Isso nem sempre acontece na primeira tentativa, mesmo que seja alguém super experiente e gabaritado. Caso não se sinta à vontade com uma pessoa, continue procurando até encontrar o melhor coach para você.
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